Terra Chã a sua gente



LEMBRANDO COM SAUDADE O AMIGO DOMINGOS XAVIER E OUTROS


Um dos maiores testemunhos do passado da freguesia é Domingos Xavier. Ele louva o passado e, com carinho e gosto, conta-o a quantos o procuram, sempre pronto a transmitir aos mais novos a históris que conhece e tão bem sabe contar. Domingos Xavier considerava outrora a Terra Chã “ o melhor jardim dos Açores”, pela beleza dos seus pomares de todas as qualidades de frutas. É ele quem conta a história dos célebres “ Irmãos Corvelos” que, gande contributo deram para o desenvolvimento da Terra Chã e da Ilha Terceira. Os Corvelos eram dados como oriundos da Ilha do Corvo e daí o seu nome. Com intenção de partirem para a América chegaram ao Porto das Pipas, em 1825, mas o mau tempo impediu a partida do barco. A família Corvelo resolveu então ficar na ilha, instalando-se na Terra Chã, mais precisamente na Fonte Faneca. Esta família era constítuida por sete Irmãos e uma irmã. Os homens conseguiram arranjar emprego na apanha das laranjas, abandonando,assim, a ideia de partir para a América. Aos poucos e poucos os Corvelos foram comprando terras, dedicaram-se ao comércio, iniciando, deste modo, a sua fortuna. O tempo foi passando e os seus prédios e quintas aumentavam, chegando a ter um talho e um Banco por sua conta. As suas propriedades iam das Cinco Ribeiras á Agualva. Com os seus negócios a progredir, principalmente o da laranja, começaram então a dedicar-se á lavoura, nomeadamente á criação de gado bravo, formando-se, assim, a primeira ganadaria de gado bravo da Ilha Terceira. Esta ganadaria participou em corridas de toiros na antiga Praça de São João, situada na cidade de Angra do Heroímo, e ne primeira tourada á corda da Ilha Terceira, que se realizou nas festas do Império aqui na Terra Chã. E era o nosso conhecido cantador” Ferreirinha das Bicas” quem, cantando, dizia:

Nem Albino, nem Parreira
Ao pé deste vale um centavo
Foi a primeira casa da Terceira
Que apresentou gado bravo.


Os herdeiros dos Irmãos Corvelos souberam manter vivo o interesse das ganadarias de gado bravo. São eles Manuel Corvelo Cardoso (Manuel Chorica) e Emilia Corvelo Soares (Emília Chorica), a quem sucederam, respectivamente, Cândido Ponceano (11 Cândido das Bicas) e Patrício Sousa Linhares. Na Terra-Chã destacaram-se como pastores célebres destas ganadarias José Pires, José da Rocha Cabaça, Cândido Martins Ponceano, Antônio Patrício, Manuel Ivens, Jacinto Chorica, José Corvelo Ávila, José Correia Fuso, Luís Poeira, Jacinto Patrício, Jacinto Cota, José Cota e Luís Patrício.
Outra ganadaria famosa da Terra Chã era a pertencente ao Morgado Barcelos, então proprietário da Quinta do Rosário. No lugar dos Boínhos ainda hoje existe o curral onde o gado bravo era ferrado e escolhido para as touradas. Herdaram a ganadaria os filhos Dr. João Barcelos e Manuel Barcelos. Os touros desta ganadaria eram bem apresentados. Quando a crítica popular se queixava nas touradas que algum touro tinha sido “malão” o Dr. João respondia: eu dou-lhes beleza mas não posso dar-lhes bravura. De Manuel Barcelos foi herdeiro o filho Virgínio Barcelos. Para as touradas á corda antigamente os touros das ganadarias dos Irmãos Corvelos e Família Barcelos vinham a pé, com vacas e conduzidos por pastores. O trajecto percorrido ia das Trempes ou dos Boínhos, conforme a ganadaria, passando os caminhos antigos da freguesia( Canada dos Pomares, Canada do Loural- estreitinho- Canada do Negro, Atalho das Lajes- Fixe- Caminho do Tío Patrício, junto á Igreja) guardar os touros antes e depois de serem corridos. Os touris existentes na Terra Chã ficavam localizados no terreiro, junto á Casa do Ti Cândido, na Canada de Belém no forno da cal e na Boa- Hora no Páteo do José Corvelo, ao lado do império.

(Terra Chã - Roteiro cultural, 1999)